Título: O Diário de Anne Frank (Edição de Bolso)
Nota: ⭐⭐⭐⭐⭐💙
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Não é o tipo de leitura que agrada a todos, mas há algo de mágico nos diários pessoais. Você é transportado para algo além da história de alguém… Você tem acesso a tudo o que essa pessoa estava sentindo enquanto escrevia, e isso é quase poético — é lindo.
Foi com esse sentimento que comecei a ler O Diário de Anne Frank, obra clássica que conta em pormenores como era o universo de uma judia fugida em meio a Segunda Guerra Mundial. Não é uma história feliz, claro, mas o mais impressionante é a leveza que Anne consegue passar em sua escrita e visão sobre tudo que lhe acontecia.
“Quando escrevo, sinto um alívio, a minha dor desaparece, a coragem volta. Mas pergunto-me: escreverei alguma vez coisa de importância? Virei a ser jornalista ou escritora? Espero que sim, espero-o de todo o meu coração!”
E é essa leveza que introduz o leitor com naturalidade no universo (pequeno e proibitivo) que passa a ser a vida de Anne dentro de seu esconderijo. É impossível não se sentir inserido na história logo nas primeiras páginas, porém, essa inserção cresce substancialmente no decorrer do diário de Anne e a leitura vai fluindo cada vez melhor.
A história da menina é famosa e lembrada de tempos em tempos, mas, ainda assim, vou fazer um apanhado aqui para explicar mais ou menos o contexto deste diário, que foi escrito entre junho de 1942 e agosto de 1944. Anne Frank foi uma garota judia, filha de pais de classe média alta, que precisou fugir das garras nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. O plano da família era se esconder em um anexo localizado em um escritório de trabalho, com o apoio de amigos e contando com a sorte para não serem descobertos até que a guerra acabasse.
O sucesso do plano dependia de apenas algumas coisas: todos os membros do grupo — que também incluía mais uma família e um senhor — ficarem em silêncio total durante o dia, ninguém sair da casa, todos os envolvidos manterem segredo sobre a situação e, claro, a sorte de não ter o imóvel vistoriado em algum momento.
“Enquanto ainda há disto, pensei, um Sol tão brilhante, um céu sem nuvens e tão azul, e enquanto me é dado ver e viver tamanha beleza, não devo estar triste.”
Isso significa que o grupo passou por incríveis privações, medo (afinal, ninguém queria ir para os temidos campos de concentração) e ansiedade. É em ambientes assim que visualizamos o lado mais humano de qualquer pessoa, e isso tudo é explorado com maestria pela observadora Anne.
O interessante aqui é perceber que, apesar do renome e importância histórica da obra, não estamos lidando com um livro que vai lhe ensinar história básica ou citar constantemente acontecimentos marcantes para a época. A verdade é que todo esse livro foi escrito por uma menina trancada em um cômodo apertado, sem acesso ao mundo exterior. Vejo muitas críticas negativas a obra por isso, e acredito que seja mais culpa do leitor, que pega a leitura totalmente desinformado sobre o seu conteúdo.
Mas é impossível não sentir todos os dramas sofridos pelo grupo, desde aqueles provocados pelo aperto que a situação em si gerava, como fome ou medo, até os relacionados com as dificuldades de conviver durante tanto tempo (e em uma situação tão delicada) com outras pessoas. O grupo logo é permeado por brigas, discussões cada vez mais infantis, mostrando como o universo de alguém trancafiado em um lugar pode se tornar pequeno e restrito. Até os adultos parecem voltar ao tempo de infâncias, imaturos e intransigentes.
“Gostaria de dizer isto: acho estranho os adultos discutirem tão facilmente e com tanta frequência sobre coisas tão mesquinhas. Até agora eu achava que birra era uma coisa de criança e que a gente superava quando crescia.”
Acompanhar os pensamentos de Anne Frank nos dá 2 grandes conclusões: a de que ela era só uma criança em meio um acontecimento brutal como aquela guerra, e também o fato dela ser extremamente madura, e amadurecer ainda mais rápido naquele espaço. A evolução da menina é nítida durante os 2 anos em que ela escreveu o Diário e mesmo o leitor consegue sentir a sutileza de seu amadurecimento.
O lado ruim é que esses diários passaram por um pente fino do próprio pai da Anne, que sobreviveu ao Holocausto e resolveu publicar o diário da filha após a Segunda Guerra. Hoje, existem diversas edições diferentes do Diário, mas todos possuem algum nível de corte, já que o pai achou coerente tirar da edição momentos como as brigas e críticas de Anne para com a mãe, por exemplo. Além disso, questões que a garota levantava sobre a própria sexualidade também foram cortadas de algumas edições. Sobre esses detalhes e mais informações sobre as edições existentes, recomendo muito o vídeo-resenha da maravilhosa Tatiana Feltrin sobre o livro!
“Por vezes penso que Deus quer pôr-me à prova. Tenho de me aperfeiçoar sozinha, sem exemplo e sem ajuda, só assim hei-de ser um dia forte e resistente. Quem, além de mim, lerá estas coisas? Quem pode ajudar-me?”
Outro detalhe importante é que a personalidade forte de Anne nos traz reflexões maravilhosas sobre gênero, guerra e humanidade, e a honestidade da menina ao escrever sobre essas questões (de forma madura) é maravilhosa. Me encantei com trechos em que ela fala sobre a beleza do ser mulher e conta seus próprios sonhos para o futuro, ainda que ela descreva tudo com o óbvio medo do que poderia acontecer.
É doloroso saber de antemão que todo sacrifício feito pelo grupo, seja para sobreviver, seja para conseguir conviver uns com os outros, foi em vão. Ainda em agosto de 1944 o Anexo, como eles chamavam o local, foi descoberto e todos acabaram em campos de concentração: Anne Frank e sua irmã morreram de tifo, a mãe delas também morreu e, da família, apenas Otto Frank, o pai, conseguiu se safar vivo.
Enfim, acredito que O Diário de Anne Frank seja uma obra importante sobretudo para alimentar o nosso senso de empatia. Descobrimos os piores e melhores lados do ser humano enquanto lemos, acompanhamos o crescimento de uma menina inteligente e gentil e também ouvimos os relatos mais engraçados, curiosos e até românticos (como é de se esperar de um diário de adolescente!).
“Todo mundo tem dentro de si um fragmento de boas notícias. A boa notícia é que você não sabe quão extraordinário você pode ser! O quanto você pode amar! O que você pode executar! E qual é o seu potencial!”
Recomendo bastante a leitura principalmente para quem gosta de estudar a Segunda Guerra e quer ter uma visão mais intimista sobre as vidas de pessoas que viveram na época. No mais, com certeza adorei a obra!
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Sinopse: 12 de junho de 1942 até 1º de agosto de 1944. Ao longo deste período, a jovem Anne Frank escreveu em seu diário toda a tensão que a família Frank sofreu durante a Segunda Guerra Mundial. Ao fim de longos dias de silêncio e medo aterrorizante, eles foram descobertos pelos nazistas e deportados para campos de concentração. Anne inicialmente foi para Auschwitz, e mais tarde para Bergen-Belsen. A força da narrativa de Anne, com impressionantes relatos das atrocidades e horrores cometidos contra os judeus, faz deste livro um precioso documento. Seu diário já foi traduzido para 67 línguas, e é um dos livros mais lidos do mundo. Ele destaca sentimentos, aflições e pequenas alegrias de uma vida incomum, problemas da transformação da menina em mulher, o despertar do amor, a fé inabalável na religião e, principalmente, revela a rara nobreza de um espírito amadurecido no sofrimento. Um retrato da menina por trás do mito.
Olá, como vai?
Esse livro está na minha lista de leitura há séculos. Eu já assisti ao filme e não curti muito. Esperava mais emoção. Tenho a expectativa de que o livro seja bem melhor.
Adorei sua resenha.
Abraços!
http://ymaia.blogspot.com.br/
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Oi, Ygo! Quanto tempo! 🙂
Então, não sei se consigo enquadrar o Diário como um livro emocionante. As vezes dá pra sentir o desespero de Anne escrevendo mas, em geral, todos fingiam o maximo possível uma vida normal, escondendo a dor (é o que acreditava, enquanto lia o livro).
Mas acho que você vai gostar porque a mente de Anne é bem cativante e ela traz muitas discussões interessantes (e ela era tão nova, ainda me surpreendo com a maturidade!).
Abraço!
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