Esse é um livro que grita que precisamos falar das Amandas, e também das Claras. Não só falar sobre elas, mas protegê-las, mesmo sem saber seus nomes ou idades; protegê-las, às vezes, de quem mais deveria estar protegendo-as.
Morando com a avó, ela olha para as outras crianças com algum quê de inveja, por enxergar nelas crianças felizes com pais de verdades, apesar de amar e saber que é amada pela avó. Essa impressão ganha força na garota quando ela conhece sua vizinha, a Amanda, que parece ter tudo que uma garota poderia ter, e talvez muito mais. Só parece.
O diferencial da Mar, possivelmente, foi dar voz para uma protagonista que sofre igualmente quanto a vitima, mas não está exatamente nesse papel que, com certeza, é ainda mais doloroso. O tempo todo ela vai te fazer pensar: são só crianças.
Nós enxergamos, sobretudo em Clara, que a dor vai muito além da dor física. Não é apenas isso. O sexo tanto de Amanda quanto de Clara se torna doente, e a autora conseguiu mostrar isso muito bem em sua narrativa, apontando as relações as vezes frustradas que as garotas tentavam ter com outras pessoas. Até isso delas é roubado.
Do meio para o fim do livro, muitos trechos se tornam muito confusos porque a protagonista começa a narrar os acontecimentos no presente, passado e futuro, também, o que deve ter deixado umas pontas soltas aqui e ali, mas, novamente digo, nada de muito grave pra ideia geral do livro. Esse é aquele tipo de livro que é muito melhor se deliciar em uma hora vaga no fim de semana, até porque, em 2 ou 3 horas você finaliza a leitura.
Você só quer que tudo acabe bem, e o final do livro surpreende por ter um misto de sentimentos e acontecimentos. Considerei bem positivo. Esse, certamente, é um livro real sobre não apenas duas meninas, mas milhares delas espalhadas pelo mundo, dezenas delas, talvez, agora em seu bairro. É uma história real, sim, ao ponto que traz não apenas uma realidade, mas a realidade de milhares de meninas que tiveram suas infâncias roubadas.
“Não vou mentir, muitas personagens do livro um dia existiram. E todas elas foram muito importantes para a construção da obra. Porque eu me inspirei em 10, 15, 20, um milhão de pessoas, misturei tudo e criei a Amanda e a Clara.” – Mar Paschoal na apresentação de seu livro
Autora: Mar Paschoal
Autora auto-publicada – Amazon
75 páginas
SkoobNota 4/5 ou 9 de 10Sinopse: Existem milhares de pessoas que sofrem com seus próprios problemas. E milhares que sofrem com o sofrimento dos outros. Clara é uma dessas.
Sua melhor amiga, Amanda, tem um segredo devastador. Clara sabe o que Amanda tenta esconder. Mas jurou à amiga que não falaria a ninguém. Clara se vê em um impasse: conta para todos, trai a amiga e a salva? Ou omite, finge que não sabe de nada, é fiel e deixa o universo decidir o que acontece no futuro?
Em “Para os meus Pais” a protagonista não é a vítima. É a amiga dela e sua impotência.